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Alafiá: Princesa e guerreira africana

Apesar de não estar presente em vida na montagem "A Princesa Dara e o Sapo Que Fala", da Cia Kokelinha, a importância da personagem Alafiá na dramaturgia da peça é imensa. Se você assistir a apresentação, com certeza irá entender o porque. Porém, a história original dessa princesa é um pouco diferente da versão criada para a peça infantil. O que não muda, é claro, é o espirito guerreiro que move as conquistas da personagem. Conheça agora a  história original de Alafiá, a princesa africana que se tornou uma guerreira quilombola.

A PRINCESA ALAFIÁ

Era uma vez uma princesa chamada Alafiá, que morava no reino de Daomé, no continente africano. Certo dia, durante uma festa na cidade da princesa, seu reino foi invadido por homens que possuíam armas de fogo. Apesar de todo povo ter lutado bravamente, não conseguiu resistir muito tempo, pois as armas dos invasores eram mais eficazes que o armamento do reino. A menina, seus pais, que eram rei e rainha da cidade, e muitos de seus irmãos foram sequestrados para serem escravizados em uma terra muito distante.

Enfrentaram uma longa viagem marítima, dentro de um grande navio, empilhados como mercadoria, amarrados e espancados. Por causa desses maus tratos, muitos deles morreram. Desembarcaram depois de muito tempo em uma terra bonita, mas não era a África que tanto amavam e onde eram felizes. Nessa terra, Alafiá foi separada de seus pais. Esse momento foi muito triste, ela nunca esqueceu o rosto de sua mãe, a qual  chorava muito, no momento da separação.

Quando a princesa chegou ao lugar chamado fazenda, juntamente com muitos de seus irmãos negros, foi escolhida para fazer companhia para uma menina que todos chamavam de sinhazinha. Sinhazinha tinha pele e olhos claros, cabelos compridos, usava belos sapatos e vestidos, já Alafiá tinha a pele negra como a noite, olhos grandes e escuros, crespos cabelos e era tão linda quanto sinhazinha.

O tempo foi passando, Alafiá aprendeu a língua dos senhores da casa, assim como todos os outros escravizados. Crescia fazendo companhia para a menina e vendo seu povo sofrer de tanto trabalhar, apanhar e receber vários castigos. Ela nunca se conformava com aquela situação e desejava, no fundo de seu coração, que todo aquele sofrimento terminasse, queria, de fato, libertar a todos.

A princesa não se esquecia de sua terra natal. Nunca se esquecia das festas, das brincadeiras com outras crianças, das danças e, principalmente, do fato de ser uma princesa, uma princesa africana.

Quando Alafiá dizia a alguém que era uma princesa, todos riam e diziam que ela estava maluca, que não passava de uma mucama, além de não se parecer nada com uma princesa. As pessoas diziam isso porque as princesas que conheciam eram sempre de pele e olhos claros, longos cabelos, vestiam-se com belos sapatos e vestidos. Alafiá explicava que ela também era uma princesa e que todos os príncipes, princesas, reis e rainhas da África eram todos lindos e negros como a noite.

Com o passar do tempo, Alafiá tornou-se uma linda mulher e sempre com o mesmo desejo: libertar seu povo. Descobriu que muitos de seus irmãos, não aceitando aquele tipo de vida, fugiam para um lugar chamado Quilombo, onde se refugiavam com outros escravizados que fugiam de outras fazendas. Alafiá procurou saber onde ficava o tal Quilombo e tomou uma séria decisão: que iria ao encontro de seus irmãos negros para lutar contra a escravidão.

Em uma bela noite, tão bela quanto Alafiá, a moça esperou todos dormirem, pulou a janela da grande casa, passou pela senzala onde dormiam os escravos e enfiou-se mata a dentro. Andou durante toda noite; de manhã, parou para comer um pedaço de bolo e beber um pouco de água que levava consigo. Caminhou o dia todo, parou somente duas vezes para se alimentar, pois era muito forte e resistente.

Quando anoitecia novamente, Alafiá ouviu, ao longe, um som de tambores, semelhante ao que ouvia nas festas em sua terra natal e na senzala à noite, quando o senhor da casa deixava os negros se reunirem. A moça seguiu animadamente a melodia que vinha do alto de uma montanha. Quanto mais ela corria em direção ao som, mais ele aumentava.

De repente, Alafiá chegou a um lugar onde todos dançavam felizes em volta de uma fogueira. No momento em que aquelas pessoas viram a moça, correram ao encontro dela, deram-lhe o que comer e deixaram que ela dormisse o resto da noite, pois estava muito cansada. De manhã, Alafiá contou a todos sua história, tudo que viveu até aquele momento. Passou, daquele dia em diante, a  morar ali e tornou-se muito amiga de todos  e querida por eles.

Um jovem, que era líder e guerreiro do Quilombo, apaixonou-se por Alafiá, e ela, por ele. Alafiá aprendeu a lutar e cavalgar brilhantemente com o rapaz e, cada vez mais apaixonados, casaram-se. Todas as vezes que os guerreiros iam libertar outros irmãos, ou quando invadiam o Quilombo para tentar exterminá-lo, Alafiá lutava bravamente ao lado de seu esposo e dos outros guerreiros. Apesar de muita luta e dificuldade, a jovem princesa sentia-se feliz, pois conseguiu levar a vida lutando por aquilo em  que acreditava, além de encontrar um grande amor.

Créditos do texto:
Grupo Cultural Vozes da África
Sinara Rubia

"Mais do que uma princesa, nossa querida Alafiá é uma guerreira, uma transgressora. Não tolera a submissão, não esmorece na solidão, busca aliados junto aos seus, não espera que um homem venha resolver seus problemas em troca de juras de felicidade eterna. Alafiá é uma mulher  negra real, contemporânea nossa. Está nas favelas, na militância, nas universidades. Está transgredindo a ordem de que toda a princesa tem que ser loura de olhos azuis"

Créditos do texto:
Casa Escola

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